martes, 24 de enero de 2012

Vida de lobos

La manada lo dejó atrás por inútil. Las ovejas lo golpearon cuando intentó atacarlas. ¡Y ahora Caperucita lo lleva al coiffure para que le hagan un corte poodle y lo tiñan de rosa! No es vida la del lobo.

Los últimos días

—¡Arrepentíos! —dijo el Profeta—. ¡La noche de los días está a la vuelta de la esquina! Los habitantes del pueblo, con cierta ternura, lo aplaudieron. Alguno chifló fuerte. Estaban reunidos para festejar los setenta años del Viejo prediciendo el Apocalipsis.

El suplicio

El inquisidor hace una seña al torturador. La rueda del potro gira, estira miembros y disloca articulaciones. El condenado se ríe. Primero emite un "¡ja!" que desconcierta a los presentes, luego estalla la carcajada. Nadie entiende qué pasa. Nosotros —lectores— tampoco.

lunes, 16 de enero de 2012

Antípodas


La hija del Comisario García se casó con un hippie. La relación entre los hombres estaba condenada al fracaso: materia y antimateria, luz y oscuridad. El final estaba cantado. Es raro verlo al Comisario García vendiendo collares de piedritas coloreadas en el Parque Centenario.

Okupas


Primero lo intentaron los abogados. Luego, la policía montada. Más tarde vinieron sacerdotes que intentaron un exorcismo. Después, profesinales del Grupo de Ciencias Extrañas. Tampoco resultó con las médiums. La crisis nos golpea a todos: si nos sacan de aquí ¿adónde iremos los fantasmas desocupados?

Para amenizar la vida dentro del Monasterio


San José de Cupertino está en éxtasis y levita a un metro del suelo. Hay olor a jazmines.
Por detrás se acerca el novicio Clemente y deja bajo el santo un pequeño cartucho de pólvora. Explota. El santo cae despatarrado. La carcajada estalla entre los monjes.

Grandes microrrelatos del 2011

"Clamor de un caído", un de los 56 GRANDES MICRORRELATOS DEL 2011.

¡Gracias a todos los lectores de la Internacional Microcuentista


Más microcuentos míos en portugués

José Lópes tradujo mis "Variaciones sobre 'La metamorfosis' de Kafka" al portugés, en http://micro-leituras.blogspot.com/2011/12/daniel-frini-argentina-2.html. Acá están:

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka I 
- Ai, Virgem Santa! Que castigo! - dizia dona Samsa – O que é que vão dizer os vizinhos? E a honra da família? Não é suficiente que Gregor sofra uma metamorfose? Porquê, Senhor meu, ele tinha além disso, de se transformar numa mariposinha? (*) 

(* ) Versão possível do original: mariposón, 
gíria para homossexual; e que, neste caso, 
também sugere a fusão das palavras mariposa 
(um insecto) e maricón. 

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka II 
Destino de esgoto, o de Gregor Samsa: no horóscopo chinês ele é rato. 

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka III
Em Praga, numa certa rua, numa certa esquina, Gregor Samsa suspira. Tocou-lhe em sorte viajar e conhecer mundo, e agora não suporta mais a sua limpa cidade natal. E estranha, com um nó na garganta, as lixeiras a céu aberto de Buenos Aires. 

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka IV 
- Cortem! – gritou o director – E publique-se! Dois assistentes ajudaram Samsa a erguer-se de novo sobre as suas patas «Gregor – costumava filosofar a sua mãe – não há mal que não venha por bem!». Tinha razão. Ser um duplo de risco em publicidade a insecticidas, era um trabalho tão bom como qualquer outro.  

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka V 
- Gregor Samsa! – gritou a esposa. Ele engoliu em seco. Ela estava irritada. Não lhe chamou “Goió”, nem “Gregory”, nem “Bára”(*) – como o apodava a rapaziada do bar – nem o tão íntimo e carinhoso “Bichinho meu” com que iniciavam as pegajosas noites de amor. 

 (*) Diminutivo de barata 

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka VI 
«O que é que me aconteceu?», pensou Gregor ao despertar dum sonho intranquilo. Viu-se na sua cama convertido num monstruoso ser rosado, lampinho, com quatro extremidades terminadas em dedos e uma pele suave e repugnante, tão diferente da dura carapaça que todos os insectos usavam em Praga. 

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka VII 
«Estimado senhor Kafka», começava a carta, «entendo a sua necessidade de exprimir desesperação por uma sociedade que não aceita a diferença. Agradeço-lhe a fama imperecedoura que me conferiu o seu relato, Die Verwandlung (*). Mas, seria muito pedir-lhe que inclua nele um bicho fêmea? É que me sinto só!». 
(*) A Metamorfose 

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka VIII 
- Repare, senhor Kafka – disse o editor – o mundo não está preparado para um relato deste tipo, tão obscuro, tão…como diria?...repugnante. Melhor, porque é que não faz com que Samsa se transforme, quando fica irado, num super-herói gigante e musculoso de cor verde? Seria um marco. Creia-me. 

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka IX 
- Vago! – gritou o chefe de Samsa – Não vai trabalhar porque se encontra indisposto? Tolices! Você é um mau empregado! Não me venha com essa de se ter transformado num bicho. Já ouvi desculpas ridículas, mas isto é o cúmulo. Você sempre foi um gusano, um parasita, uma larva! 

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka X 
- Papá, tenho algo a confessar-te – eu transformei-me! - És um travesti! - Não, papá! Transformei-me num bicho. - Que susto que me pregaste! Isso não é nada, filho. Há problemas piores… 

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka XI 
- Gregor, acomoda as anteninhas, que a televisão está a ver-se com chuva! 

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka XII 
- Mamã, falta muito? 
- Dois dias.
- Mamã, falta muito? 
- Um dia. 
- Mamã, falta muito? 
- Não, já dá. Anda! 
Gregor saiu feliz de casa. Era Carnaval. No meio dos disfarces ninguém se espantava por vê-lo, e podia percorrer os lugares de Praga que lhe estavam vedados no resto do ano. 

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka XIII
Você sofre de Síndrome Confusional Agudo, provavelmente originado por uma endocrinopatia. Não se preocupe, vamos tratá-lo com Risperidona, e asseguro-lhe que melhorará notavelmente – disse o psiquiatra, enquanto coçava o seu ventre pardo e abaulado, e agitava as suas muitas patas, ridiculamente pequenas em comparação com o resto do corpo. 

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka XIV 
Nos esgotos de Praga, é costume ver-se a silhueta dum monstruoso insecto que aterroriza até os roedores que povoam os canos. As mães ratas assustam assim os seus filhos: - Se não comes os desperdícios, Gregor Samsa leva-te! 

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka XV 
Não é que não te queiramos, filho, mas podias ao menos não meter a tua cabeça na panela para comer a sopa? Para nós, os que ainda somos humanos, essa baba que soltas tem um gosto asqueroso. 

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka XVI 
Entendo o seu ponto de vista, senhor Samsa, mas o seu filho não pode viajar na cabina do avião. Deve despachá-lo numa jaula, para prevenir a zoonose. Qualquer dúvida que tenha, apresente-a ao senhor Kafka. 

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka XVII 
Não dá para acreditar, senhor polícia! Como é que eu poderia saber que era Samsa? Conheci-o de menino, uma formosura de criatura, e não se parecia em nada com essa que matei com sandaladas. Aqui tem a arma assassina! Não se manche com os pedaços que estão colados á sola. 

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka XVIII 
«Como diabos iria chupar o sangue dessa coisa? Seria venenoso?». As duas mulheres e o homem que acabava de submeter na casa ao lado, estariam infectados? Seriam humanos que se converteriam nisso, como os homens-lobo? «Porque diabos não me fiquei por Valáquia?», pensou o vampiro. 

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka XIX 
- Estúpido aprendiz de bruxo – disse o Bruxo Director – Você leu a Regra? Ãh? Aqui está, veja! – Não usar o feitiço Insectus em humanos. Não há retorno. O que é que eu digo agora a dom Samsa, que é o presidente da Cooperadora? E não me venha com essa de que Gregor o merecia por ser um lambe-botas!  

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka XX 
- Gregor, meu filho, a mamã e eu temos uma coisa para te dizer: és adoptado. 

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka XXI 
- O que é que se poderia esperar da tua família – recriminava-lhe a esposa a Gregor – a tua irmã é um gato, a tua mãe é uma víbora e o teu pai um zangão! 

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka XXII 
- Oxalá o meu pai se transforme num insecto! – disse a pequena Berta à sua amiga Antje, referindo-se ao senhor Zimermann. Quando Gregor despertou na manhã seguinte, encontrou-se sobre a sua cama convertido num ser monstruoso. Pequenas trocas das infidelidades conjugais. 

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka XXIII 
Sétimo filho varão. Sexta-feira de Lua Cheia. Gregor apaixonado por Leyna Ahrends. Mas acabou-se o stock de lobisomens. Apenas sobraram insectos. 

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka XXIV 
- Gregor? Sois vós? Faz tanto tempo que não nos vemos! Xi! Tu mudaste tanto! 

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka XXV 
- Escute-me, Samsa, tenho que lhe pedir que não insista e se retire. Aqui estamos a filmar Alien! Entendeu? A-L-I-E-N. 

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka XXVI 
Creio na reencarnação, creio no Karma, creio em vidas pretéritas; mas, não teria sido preferível ter morrido antes de me mutar nesta coisa? 

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka XXVII 
- Dê-lhe isso, dona Samsa, seja boazinha e deixe que Gregor venha jogar à bola connosco. Falta-nos uma marca de baliza. Dê-lhe, seja boazinha! 

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka XXVIII 
- Filhos – disse a Rainha-mãe Alien – apresento-lhes Gregor, um primo que veio da Terra. 

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka XXIX 
Nos túneis das cloacas de Praga há, por estes momentos, um certo vendedor de panos que, sem clientes que lhe comprem tecidos, aborrece-se soberanamente enquanto que, com as suas curtas patas, coça a terceira secção do seu abdómen, recordando, saudoso, a época em que era humano. 

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka XXX 
- Uau! – exclamou Samsa, mirando-se ao espelho – estas pastilhas batem forte! 

Variações sobre «A Metamorfose» de Kafka XXXI 
Com o tempo, Gregor Samsa acostumou-se a que o tratassem como a um bicho raro.

¡Gracias José!